Considerados como uma das bandas da vanguarda do numetal, Deftones retorna às paradas em novo álbum private music, mostrando que o rock segue vivo (para os que permitem se renovar).
Seja nas playlists dos streamings com grandes hits dos anos 1990 ou nas trends com músicas que estariam nas paradas dos anos 2000, a busca por reviver estéticas do passado tem conquistado as redes das novas gerações e servido de referências. Segundo o relatório Youtube Cultura & Trends (2022), apontou que 82% dos jovens da geração Z consumiram conteúdos na plataforma para se sentirem nostálgicos. Com o revival de tantas bandas, do pop ao rock, parece não haver outro caminho a seguir a não ser retornar a velhas sonoridades.
No entanto, em private music, a banda Deftones - formada por Chino Moreno, Stephen Carpenter, Frank Delgado, Fred Sablan e Abe Cunningham - parece encontrar o equilíbrio perfeito entre reverenciar a sua trajetória mas não se limitar a si mesma. A banda que traz em sua história o pacote completo do clichê do universo do rock - polêmicas, fama astronômica, brigas, drogas e perdas difíceis - utiliza de maneira sensível toda essa bagagem para produzir um álbum que não se prende ao passado e renova sua base de fãs com a sua diversidade.
Desde Adrenaline passando pelo clássico White Pony, Deftones estabeleceu uma identidade sonora única que marcou gerações. Um álbum de uma riqueza de detalhes sonoros impressionante, private music passou pela produção de Nick Raskulinecz, parceiro da banda desde Diamond Eyes. Em “my mind is a mountain”, single lançado anteriormente e faixa que abre o álbum, esse DNA sonoro é facilmente reconhecido. Os riffs pesados complementando o vocal melódico distorcido parecem trazer mais do mesmo e pra quem achou que o álbum se restringiria ao familiar, foi facilmente surpreendido nas faixas seguintes.
O shoegaze e o rock industrial se misturam e ganham uma nova roupagem em “locked club”; logo depois, “ecdysis” e “infinite source” trazem densidade no instrumental com grooves hipnóticos, eletrônicos potentes e melodias etéreas que dão ao álbum uma atmosfera soturna. A dualidade entre o passado familiar e o inexplorado contemporâneo ficam ainda mais evidentes nas faixas “souvenir”, “ i think about you all the time” e “cut hands”.
Desde 2015 sem retornar ao Brasil, a esperança dos fãs de ouvir as novas músicas ao vivo está cada vez mais perto de se concretizar. Em entrevista recente, o baterista Abe Cunningham confirmou que a banda retornará em 2026 para apresentações em solo brasilerio, aumentando as expectativas de quando e onde será esse aguardado retorno.
Private music evoca, com maestria, um Deftones contemporâneo e imprevisível, respeitando um legado mas sem medo de encarar o agora. A nostalgia atrai, mas é por meio de uma sonoridade contemporânea e visceral que o Deftones se firma como uma banda de contrastes dramáticos que não tem medo (e muito menos busca de alguma forma) se restringir a moldes clássicos. Sem concessões, private music traz na sua essência a liberdade e rebeldia de quem viveu muito e ainda almeja viver muito mais.

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