Planet Hemp: Três Décadas de Fumaça, Rebeldia e Liberdade


Foi uma camiseta dos Dead Kennedys que uniu Skunk e Marcelo D2 em 1992, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro. Entre conversas, riffs e ideias, nascia o Planet Hemp, um coletivo musical que misturava rap, rock, psicodelia e ragga em uma fusão inédita. Antes mesmo de lançar um álbum, a banda já agitava a cena underground do Rio e de São Paulo, lotando casas alternativas e chamando atenção pelo discurso provocador.

A trajetória de Skunk, no entanto, foi interrompida cedo: o músico morreu aos 27 anos, em 1994. O rapper BNegão, que já acompanhava o grupo de perto, assumiu os vocais ao lado de D2 e ajudou a consolidar a formação histórica que marcaria o nome Planet Hemp na cultura brasileira.

“Usuário” o álbum que virou manifesto

O primeiro disco, Usuário (1995), foi um choque cultural. Letras diretas e batidas pesadas apresentaram ao país uma banda que falava sem medo sobre legalização da maconha, repressão policial e liberdade de expressão.

Canções como “Legalize Já”, “Dig Dig Dig (Hempa)” e “Mantenha o Respeito” tornaram-se hinos de uma geração que via no Planet Hemp um espelho de resistência.

O sucesso trouxe também repressão. Em 1997, após um show em Brasília, os integrantes foram presos sob acusação de “apologia às drogas”. O episódio ganhou repercussão nacional, gerou debates sobre censura e transformou o Planet em símbolo de liberdade artística no Brasil pós-ditadura.

Logo depois, lançaram Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára (1997), um álbum ainda mais que consolidou a banda como porta-voz da contracultura brasileira.

Do “Homem Fumaça” aos Grammys Latinos

Nos anos 2000, o grupo seguiu desafiando convenções com A Invasão do Sagaz Homem Fumaça (2000), explorando novas sonoridades e mensagens políticas afiadas. Após um período de pausa na banda, o retorno veio com JARDINEIROS (2022), um álbum que trouxe colaborações com Criolo e uma produção moderna sem perder o peso e a crítica social.

O reconhecimento foi imediato: em 2023, o Planet Hemp venceu dois Grammys Latinos, incluindo Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa e Melhor Interpretação Urbana, com a faixa “DISTOPIA”.

Agora, em 2025, o Planet Hemp se despede dos palcos com a turnê A Última Ponta, que celebra três décadas de história. A turnê inclui apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Goiânia, Brasília e Belo Horizonte, com setlists estendidos e participações especiais.

O registro audiovisual mais recente, BASEADO EM FATOS REAIS: 30 ANOS DE FUMAÇA (AO VIVO), foi gravado em São Paulo e traz colaborações com Pitty, BaianaSystem, Major RD, Rodrigo Lima e Tropkillaz.

“O show do DVD dá uma boa dica do que os fãs podem esperar desta turnê. Vamos tocar músicas que ficaram de fora antes e receber convidados que fizeram parte da nossa história”, prometeu D2.

Mais do que uma banda, o Planet Hemp é um manifesto. Com letras afiadas, atitude e uma sonoridade única que influenciou gerações, o grupo mudou a forma como o Brasil entende música, política e liberdade de expressão. 

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