Entre memórias e hinos: como o retorno do Oasis completou minha própria história

 

Dezesseis anos depois da última passagem pelo Brasil, Oasis fez do Estádio do MorumBIS, neste sábado (22), o cenário de um reencontro histórico. O show reuniu nostalgia, precisão e uma carga emocional que se anunciava já na caminhada até o estádio. Uma sensação coletiva de que algumas histórias não se encerram até encontrarem um final digno. E, no meu caso, essa história começou muito antes do primeiro acorde.

Enquanto avançava pelas arquibancadas, voltei a 2012, quando uma versão bem menor de mim descobriu Wonderwall ao ver um artista cheio de atitude cantar nas Olimpíadas. Foi assim que ela encontrou o Oasis, pesquisou quem eram aqueles irmãos britânicos e passou anos repetindo, quase como um mantra: “seria tão bom se eles voltassem”. Ao cruzar os portões ontem, percebi que não chegava sozinha. Levava essa menininha comigo, de mãos dadas, prestes a ver um sonho sair do campo do improvável.

Um reencontro construído em hinos

Voltando ao show, sem discursos longos ou firulas, a banda entrou com a segurança de quem conhece o estrago emocional que causa. Em poucos minutos, o estádio já estava incendiado: bastaram os primeiros acordes dos clássicos para que a plateia se transformasse num coro ensurdecedor, daqueles que vibram no peito mais do que nos ouvidos. A força desse começo ditou o clima do restante da noite e deu o tom de como seria esse reencontro.

Liam surgiu com seu timbre rouco e desafiador, cantando com uma postura inconfundível. Noel, elegante e preciso, conduziu as guitarras com a firmeza habitual. O restante da banda completou a engrenagem, entregando versões que soavam familiares, mas revigoradas pela intensidade de um retorno tão esperado. Era como se cada música servisse de ponte entre passado e presente, entre o palco e cada pessoa que ansiava por esse momento.

A força de um público que esperou

Se a banda entregava técnica e presença, o público devolvia emoção pura. Celulares erguidos, vozes trêmulas, olhos marejados, camisetas antigas: tudo contribuía para o clima de rito coletivo. Em alguns trechos, a multidão sobrepunha a própria banda; em outros, o silêncio vinha carregado de expectativa. Foram momentos que não se registram por completo, só se vive.

Foi nesse ambiente que a menininha dentro de mim desabou. Ela chorou ao ver os irmãos surgir no palco, cantou cada música como quem abre um diário antigo, abraçou desconhecidos e, por instantes, se sentiu parte de algo maior do que qualquer explicação possível. Cada pessoa ali, à sua maneira, parecia também revisitar alguma versão de si mesma.

Uma noite para guardar do começo ao fim

O setlist passeou por diferentes fases da banda, costurando hits unânimes e faixas que, ao vivo, ganham outro brilho. A cada música, a reação era a mesma: parecia sempre a favorita de alguém e, no fim, era a favorita de todos. Guitarras cristalinas, melodias que marcaram gerações, refrões que atravessam décadas: tudo convergia para a sensação de que estávamos vivendo algo que não se repetirá com a mesma força.

O encerramento veio com a grandiosidade esperada, deixando no ar aquela mistura de gratidão e gosto de “acabou cedo demais”, típica de quem esperou tanto para viver tão rápido.

Quando o impossível vira memória

No fim, restou apenas agradecer.
Foi lindo. Foi possível. E foi nosso.

Hoje, posso dizer que vi o Oasis ao vivo, e que cada verso, cada acorde, cada lágrima justificaram cada ano de espera. Volto para as mesmas músicas de antes, mas agora sem o saudosismo amarga; só com a alegria leve de quem realizou o impossível.

Aquela menininha de 2012, que apontou para a TV e disse “eu quero isso”, finalmente chegou lá. Viver o que ela sonhou não cabe inteiro em palavras, mas cabe no peito. E é lá que essa noite vai permanecer.

Porque, no fim das contas, tudo o que ela queria era exatamente isso: estar ali, inteira, diante do impossível que, enfim, virou realidade.


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