O céu de Chicago começou a tingir-se em tons alaranjados
quando Damiano David subiu ao palco do Lollapalooza, no último sábado (2). Já
não era mais o vocalista do Måneskin. Naquela noite, era só ele, com a alma à
flor da pele, um microfone nas mãos e a missão de mostrar ao mundo que sua voz
não pertence a nenhuma gaiola.
O setlist misturou composições autorais do seu álbum solo Funny Little Fears com covers escolhidos
a dedo, numa jornada de vulnerabilidade escancarada. Foi com “The First Time”
que ele abriu os trabalhos, como quem convida o público a entrar em sua nova
fase. Damiano parecia mais solto, mais entregue, quase como se cada música fosse
uma confissão.
O momento mais arrebatador veio com a sequência “Zombie Lady”
e “Too Sweet” (cover de Hozier). A primeira, carregada de melancolia e
teatralidade. A segunda, um abraço quente num público já rendido. Os gritos
vindos da plateia pediam permanência. Queriam viver um pouco mais naquele
universo que ele desenhava com voz e presença.
Damiano caminhava pelo palco como quem conhecia cada canto do
próprio coração. A intensidade nos gestos, os olhos que buscavam o público como
parceiros de dor e celebração. Entre uma música e outra, ele dizia pouco. Mas a
ausência de palavras era compensada com o que de fato importa: a entrega.
A releitura de “Nothing Breaks Like a Heart”, de Mark Ronson
e Miley Cyrus, ganhou contornos mais crus na sua voz. E em “Solitude (No One
Understands Me)”, última faixa do show, ele selou a noite com um lamento
bonito, sincero, necessário. O silêncio que ficou no ar depois dos aplausos
parecia gritar: ele conseguiu.
Damiano David fez um manifesto de quem quer cantar com
liberdade, sem perder a intensidade de quem veio do rock. Ele provou que a
mesma alma que incendiava estádios com o Måneskin é capaz de brilhar sozinha, e
talvez até mais profundamente nos palcos onde há espaço para ser inteiro.
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