No universo do pop, onde imagens valem tanto quanto refrões,
Katy Perry sempre esteve entre as arquitetas mais visionárias. Desde a estreia
retumbante de One of the Boys (2008),
ela compreendeu que construir uma carreira pop não se resume a empilhar hits
nas paradas, é sobre desenhar um universo estético coerente, narrativo e
inesquecível. E isso ela faz com a precisão de quem roteiriza cada era como um
longa-metragem.
Com Katy, o conceito nunca foi um adorno. É o motor. Cada
álbum nasce com uma identidade visual robusta, quase cinematográfica, em que
figurino, cenário, direção de arte e coreografia dialogam com as letras e
emoções. No palco, isso se materializa em espetáculos que beiram o surreal, uma
espécie de Broadway hiperpop onde tudo é coreografado para contar uma história,
mesmo que seja de forma simbólica ou emocional.
Foi assim com o mundo açucarado de Teenage Dream (2010), onde ela reescreveu a estética pin-up com
verniz contemporâneo e paleta saturada. Foi assim também com Prism (2013), quando trocou o tom pastel
pelo solar espiritualizado e inseriu elementos de autorreflexão em meio ao
espetáculo visual. E mesmo quando entrou em sua fase mais conceitual e crítica
com Witness (2017), ainda assim não
abriu mão de uma cenografia provocadora, que desconstruía as imagens que o
próprio pop havia colado nela.
Katy faz do palco um espaço de fantasia, mas também de
controle narrativo. A grandiosidade visual nunca é gratuita: ela encena, em
alto contraste, os dilemas, desejos e contradições que permeiam sua trajetória
como mulher, artista e figura pública num gênero frequentemente
superficializado. Sua performance é a própria encenação do pop como linguagem
total onde som, imagem e corpo estão em perfeita simbiose.
Não à toa, foi escolhida para encerrar o The Town. Ao subir
no palco do Autódromo de Interlagos, ela traz consigo uma bagagem estética
construída ao longo de quase duas décadas, que influenciou gerações e
redesenhou a maneira como entendemos o show pop contemporâneo. Ver Katy ao vivo
é testemunhar como o espetáculo pode ser, ao mesmo tempo, escapismo e
afirmação, um lugar onde se sonha grande e se encena ainda maior.
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