Na última quarta-feira (3), a casa Audio, em São Paulo, viveu
uma noite que ficará guardada na memória de todos os presentes. O que foi
anunciado como um simples ensaio aberto para o The Town rapidamente se
transformou em um espetáculo cheio de energia, entrega e emoção, digno de uma
apresentação oficial.
A ideia partiu da parceria com a plataforma Eisen Rock Station, da Eisenbahn, que
transformou o ambiente em uma imersão roqueira: luzes amarelas intensas, bares
temáticos, painéis de LED e até um backdrop exclusivo para registros. O clima
era de festa, mas também de expectativa. Afinal, Pitty carrega duas décadas de
carreira, trazendo consigo a responsabilidade de representar o rock brasileiro
em um dos maiores festivais do país.
Quando as luzes se apagaram e os primeiros acordes ecoaram,
ficou claro que não se tratava apenas de um aquecimento. Pitty surgiu com a
mesma força que a projetou no início dos anos 2000, mas agora com uma
maturidade artística que só o tempo e a estrada são capazes de lapidar. Para
quem acompanha sua trajetória desde o começo, cada música parecia abrir uma
porta para o passado: “Admirável Chip
Novo” fez o público reviver sua própria rebeldia adolescente; “Teto de Vidro” trouxe à tona os
questionamentos sobre identidade e liberdade; “Equalize” reacendeu romances e lembranças guardadas. Foi como
revisitar capítulos inteiros da vida, embalados por canções que nunca perderam
relevância.
Um dos momentos mais intensos da noite aconteceu em “Na Sua Estante”. Pitty pegou o violão
e deixou que a plateia assumisse os vocais. O resultado foi um coro
arrebatador, daqueles em que a música já não pertence apenas à artista, mas a
todos que a viveram. Em contraste, quando chegou a vez de “Anacrônico”, o peso tomou conta da Audio. Mosh pits se formaram, e
Pitty, com um sorriso cúmplice, incentivou os fãs a se jogarem, ou simplesmente
contemplarem, cada um à sua maneira. Esse equilíbrio entre fúria e ternura é
talvez uma das marcas mais fortes de sua obra.
O repertório ainda contou com sucessos como “Setevidas”, “Memórias” e “Semana Que
Vem”, atravessando diferentes fases da carreira da artista. O encerramento
veio com “Me Adora”, talvez o hino
mais emblemático de sua discografia. E se alguém ainda duvidava da potência
desse ensaio, ali ficou claro: a performance foi um show completo, pensado e
sentido em cada detalhe.
Para quem cresceu com a voz de Pitty servindo de trilha para
as dores, as descobertas e os gritos de liberdade da juventude, estar ali foi
experimentar uma verdadeira viagem no tempo. Só que essa viagem veio turbinada:
mais precisa, mais intensa, mais madura. Pitty continua visceral, mas hoje
carrega a experiência de uma artista que não apenas sobreviveu ao tempo, como o
dominou.
Esse ensaio mostrou que a Pitty que conhecemos segue viva,
pulsante e cada vez mais necessária. E também deixou um recado: no próximo
domingo (7), no The Town, quem
passar pelo palco The One não pode
deixar de assistir ao seu show. A promessa é de sair dali com o coração
renovado, como se tivesse ganho pelo menos mais três vidas pra gastar.

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