Badi Assad lança "Parte de Tudo Isso" — o primeiro capítulo das celebrações de 35 anos de carreira

Badi Assad lança “Parte de Tudo Isso”, álbum de inéditas que celebra a riqueza da música brasileira e o poder criativo de sua geração. Produzido pelos vencedores do Grammy Latino, Marcus Preto e Tó Brandileone, o disco reúne canções escritas por grandes artistas da mesma geração de Badi (nascidos na década de 1960), cada um trazendo seu estilo e identidade musical, compondo um mosaico sonoro que atravessa diferentes vertentes da MPB.

Créditos: Gal Oppido

Um Festa para Badi por Patricia Palumbo

Nos anos em que a Jovem Guarda e a Tropicália surgiram também nascia uma geração que 25, 30 anos mais tarde retomaria na música os princípios antropofágicos e inquietos daquela época. Alguns foram até chamados de novos tropicalistas. Ao completar seus 35 anos de carreira, Badi Assad celebra essa geração da qual também faz parte num disco que traz parceiros, compositores e compositoras que nasceram nos anos 60.

Uma geração celebrada por trazer de volta a mistura que é a grande marca não só da música, mas da arte no Brasil. Assim como os baianos levaram um novo sotaque para as dunas de Ipanema e para a Paulicéia, maranhenses, paraibanos, pernambucanos, paraenses, mineiros, gaúchos, alimentaram a musica pop brasileira de seus diversos acentos, ritmos, síncopes e marcaram uma virada no final do século 20. Que maravilha esse Brasil!! E que excelente trazer essa cena para a contemporaneidade e para o mundo de Badi, que é muito peculiar.

Nascida e criada em berço clássico, do choro, do violão de concerto e da moda de viola, essa instrumentista única no mundo inventou um jeito de cantar e tocar como se fizesse mágica. Da plateia, não se sabe de onde saem tantos sons de uma mulher só com sua voz e seu violão.

Agora, nos braços da cancão popular, que é pop naquele sentido que Caetano gosta, ela se aventura nos versos e melodias de Adriana Calcanhoto, Zeca Baleiro, Chico César, Pedro Luís, Otto, Moska, Ceumar, André Abujamra, Nando Reis, Zélia Duncan e Ana Costa. E no estúdio, no melhor modo anos 70, as coisas foram se ajeitando ao vivo. Um time de músicos de altíssimo nível. Na base chiquérrima, a mestra Debora Gurgel ao piano, o genial Serginho Machado na bateria, o delicioso e preciso contrabaixo de Fabio Sá. Participações especialíssimas de Swami Junior em três arranjos de violão; de Nailor Proveta no clarinete, o lendário maestro da Banda Mantiqueira que pontua e timbra com o violão de Badi na faixa de Zélia Duncan e Ana Costa, “Tristeza, Nem Vem” e na belíssima “Ê Mulher”, de Chico César; o percussionista Marcos Suzano aparece com seu inconfundível sotaque na parceria de Badi com Otto, “Na Vida do Mar”.

Um disco diverso e diferente dentro da carreira de Badi Assad. Sua voz e seu violão se aventuram nesse caldeirão sem perder identidade. Especialmente seu violão que se destaca como se obedecesse à uma clave própria. Vem do fundão do Brasil em algumas faixas e em outras transparece todo o imenso caminho percorrido por Badi nas andanças que fez pelo mundo. Em Bordadura Serena, com Pedro Luís, a voz e o violão desenham a melodia como se obedecendo ao título da música. Essa canção, conta Badi : “tem óleo, azeite, cuidado”. Em “Ser Humano é Floresta”, com Abujamra, o violão vem forte como o tema, “cada ramo é uma escolha”.

Em “Tororó”, um forrózinho gostoso de Zeca Baleiro e Vicente Barreto aparecem as técnicas vocais que sempre me assombram e Tó Brandileone, assovia e toca violão. Badi faz dueto com Zélia Duncan na composição que Moska fez especialmente para ela, “Possível Manual do Amor”, e no final da faixa as duas vozes sem acompanhamento vibram juntas lindamente. Na parceria inédita com Calcanhotto, “Você, Cadê?”, duas mulheres de universos distintos se encontram trocando melodias. A lírica de Adriana que conversa com poetas tão diferentes como Waly Salomão e Antonio Cícero encontra a energia kundalini de Badi Assad. É um disco muito feminino e esse tom se acentua com Ceumar, “Parte de Tudo Isso”, uma canção a sombra de uma árvore, o piano, o calor, o dom. “Imaterial”, de Nando Reis, é um pop Clube da Esquina, um Trem das Cores para Badi. Nando mudou a letra pra ela.

Um elenco muito bem escolhido e mais uma produção finíssima de Tó. Elegante e perspicaz. Um disco de celebração, cinco parcerias inéditas e cinco presentes. Ótima ideia do produtor Marcus Preto trazer a geração de Badi para o disco. Minha primeira escuta foi sem encarte, tentando adivinhar quem estava alí, onde estava Badi e sua força, sua voz. Foi uma deliciosa experiência e sugiro que você faça o mesmo. Se permita o embalo e perceba o jardim que vai florindo a cada faixa. O poder do encontro e da comunhão fazendo a festa. 

Faixas

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