No último domingo (19), a Casa Rockambole foi palco de
um daqueles momentos que resumem o que há de mais pulsante na cena independente
brasileira: autenticidade, entrega e uma comunhão genuína entre banda e
público. A AQUINO voltou à casa de seu selo para celebrar o primeiro
aniversário do disco Nada Fica Muito
Tempo Exposto ao Sol — e, de quebra, registrar o seu primeiro material ao
vivo.
O trio carioca — Leandro Bessa, João Vazquez e João
Soto — mostrou por que tem se destacado entre os nomes mais interessantes do
indie nacional. Em um show intimista e bem construído, as faixas do álbum
ganharam corpo e textura, com arranjos repaginados e uma presença de palco
segura. Afinal, estavam em casa.
Entre guitarras suaves, bateria presente e letras que
oscilam entre o cotidiano e referências à música brasileira, a banda fez o
público dançar, pensar e sentir — às vezes tudo ao mesmo tempo. Apesar de ainda
somar apenas cinco anos de estrada, a AQUINO já tem um público fiel que
acompanha cada movimento da banda com entusiasmo quase devocional. O
instrumental ainda contava com batidas eletrônicas e outras texturas, como
instrumentos de sopro, que apesar de não serem vistas e pré-gravadas, nos
deixou com a expectativa de ver um show do trio acompanhado por mais músicos.
Desde os primeiros acordes, era possível perceber a
sintonia entre palco e plateia: as letras eram cantadas em coro, com emoção e
precisão, como se cada refrão fosse uma lembrança coletiva. Essa conexão é rara
em bandas tão jovens e mostra o quanto o trio carioca conseguiu construir, em
pouco tempo, um repertório que toca quem o escuta. Há uma sensação de
pertencimento em torno da AQUINO — uma comunidade formada em torno de suas
canções.
Outro detalhe que fez desta noite algo especial foi o
formato quase 360º da apresentação. O público cercava a banda por todos os
lados, com apenas um pequeno espaço livre atrás, onde circulavam os técnicos e
a equipe responsável pela gravação ao vivo. Essa disposição criou um ambiente
íntimo, quase ritualístico, em que todos se viam e se ouviam. A cada pausa, o
vocalista Leandro Bessa agradecia o público, visivelmente comovido, reforçando
o sentimento de proximidade e gratidão que marca a relação da banda com seus
fãs, amigos e familiares presentes.
O evento também reforçou a importância do Selo
Rockambole, que lançou o disco e vem se consolidando como um polos prá-lá de
criativo da música independente no Brasil. Além de funcionar como gravadora, o
selo é um ecossistema artístico que abriga a Casa Rockambole — um espaço em
Pinheiros que é estúdio, casa de shows e ponto de encontro de músicos,
produtores e artistas. O selo tem sido responsável por revelar e apoiar
projetos que transitam entre o indie, o pop alternativo e o experimental,
sempre com curadoria cuidadosa e uma estética que casa com a cena alternativa
brasileira.
Ao apostar em artistas como a AQUINO — que une
maturidade sonora e espírito livre — o selo mostra que é possível criar um
circuito onde arte e produção andam juntas, sem depender dos grandes players da
indústria. Durante o show, ficou claro o quanto essa parceria tem rendido
frutos. As músicas do Nada Fica Muito
Tempo Exposto ao Sol soaram mais vibrantes e orgânicas, em perfeita
sintonia com a proposta do selo: apostar na experimentação, mas com emoção à
flor da pele.
No fim da noite, entre os longos aplausos, a banda
aproveitou para anunciar que a banda volta a São Paulo já na próxima semana,
com show marcado para o dia 26 no SESC Belenzinho. Entre gritos de comemoração
e promessas de reencontro, ficou evidente que a AQUINO não é apenas uma
promessa: é uma banda que já encontrou seu público — e, mais importante, um
público que encontrou na banda uma trilha sonora para se reconhecer. Se o
título do álbum é um lembrete de que nada resiste ao tempo, o show na Casa Rockambole
provou que algumas conexões, sim, podem durar.
Enquanto a banda continua a escrever a sua história,
esperamos o lançamento oficial do registro dessa bela noite.
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